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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Paleontólogos descobrem crocodilo pré-histórico no município de Campina Verde

Crocodilos primitivos em terras mineiras

Paleontólogos fazem animação em 3D para mostrar descoberta de animal que viveu há 90 milhões de anos na região


Região de Campina Verde, este é o lugar onde crocodilos carnívoros correm agilmente atrás de suas presas, na animação 3D que os paleontólogos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) estão produzindo para divulgar, dentro de alguns meses, as descobertas da paleontologia a estudantes do ensino médio da rede pública e a todos os que desejam conhecer mais sobre a história da vida da Terra.
Neste caso, o ator principal é o Campinasuchus dinizi, crocodilo primitivo que viveu há 90 milhões de anos por aqui. Fósseis deste animal, encontrados em 2009 e recentemente descritos em artigo publicado na revista Zootaxa, andam empolgando os especialistas. Considerado o avô dos grupos que dominaram o interior do Brasil na era dos dinossauros, ele tem características bastante peculiares. Segundo Ismar de Souza Carvalho, paleontólogo da UFRJ e um dos autores do artigo, explica que ele tinha dentes pontiagudos, o que indica que ele era um predador voraz.
"Sua dentição possibilitava que não só comesse carne, como também fosse carniceiro, consumindo os animais que encontrava em putrefação." Outra característica a destacar é o contato entre osso frontal e nasal que possibilitam inseri-lo como o mais primitivo do grupo dos Baurusuchideos do Brasil que, até agora, só contava com quatro espécies descritas. "Esta semelhança é compartilhada com o Wargosuchus da Argentina", comenta Luiz Carlos Ribeiro pesquisador da UFTM, também um dos autores do artigo.
O Campinasuchus media apenas 1,80 m, tinha cauda cilíndrica e curta, e era essencialmente terrestre, bem adaptado a viver afastado de lagos e grandes rios, suportando bem o clima árido e as altas temperaturas do final do período Cretáceo. "Eram temperaturas que chegavam facilmente a 55 graus Celsius, ainda mais quentes do que as dos desertos atuais", explica Ismar. Suas pernas eretas lhe davam agilidade e grande mobilidade, permitindo-lhe que corresse por longas distâncias.
"Suas narinas, na parte anterior do crânio, também indicam que não se tratava de animal que vivesse na água, como os crocodilos atuais. E suas patas dianteiras mostram que o animal era capaz de escavar, o que nos leva a pensar que provavelmente isso lhe facilitava cavar o solo para se enterrar na lama em épocas de seca, mantendo a temperatura e umidade corporais", conta Ismar.
Essa estratégia de sobrevivência também foi o que facilitou a preservação do Campinasuchus dinizi, encontrado na fazenda Três Antas, em Campina Verde, no Triângulo Mineiro.
"Como há vários espécimes concentrados na área, em bom estado de conservação, os esqueletos ainda com os ossos articulados, tudo leva a crer que esses animais tenham se enterrado na lama ainda vivos, mas não tenham conseguido suportar um período de seca muito prolongado", explica Ismar. E Ribeiro acrescenta: "É provável que tenha havido uma mortandade em massa, possivelmente como resultado de períodos de estresse térmico e total ausência de água naquela bacia."
A descoberta desses fósseis – o primeiro deles encontrado pelo proprietário da fazenda, Amarildo Martins Queiroz, que, desconfiado que fossem mais antigos do que os dos animais que criava, levou-o ao Museu dos Dinossauros (UFTM) em dezembro de 2009 – e acabou transformando a Três Antas num grande sítio paleontológico. E também ao batismo do Campinasuchus, que recebeu o nome específico "dinizi" em homenagem ao filho de Amarildo, Izonel Queiroz Diniz Neto, falecido ainda criança.
Para Ribeiro, o sítio paleontológico em que se transformou a fazenda Três Antas tornou-se o mais novo "Lagerstatten" continental brasileiro. A expressão em alemão, na verdade, significa uma concentração excepcional de fósseis em quantidade, variedade e grau de preservação. "Conta com alta concentração de fósseis em bom estado de preservação, materiais completos, que possibilitarão contar detalhes da história biológica da vida durante o Cretáceo Superior", comenta Ribeiro.
A animação 3D, em andamento, recriará a história desse crocodilo, num documentário de 15 a 20 minutos de duração. "Será uma forma de partilhar essas descobertas com todos os amantes da Paleontologia. Esperamos que despertem um interesse quase tão grande quanto as animações do cinema."
 por Luiz Gustavo Amaral - Siga no Twitter, @lgustavoamarals

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