Crocodilos primitivos em terras mineiras
Paleontólogos fazem animação em 3D para mostrar descoberta de animal que viveu há 90 milhões de anos na região

Neste caso, o ator principal é o Campinasuchus dinizi, crocodilo primitivo que viveu há 90 milhões de anos por aqui. Fósseis deste animal, encontrados em 2009 e recentemente descritos em artigo publicado na revista Zootaxa, andam empolgando os especialistas. Considerado o avô dos grupos que dominaram o interior do Brasil na era dos dinossauros, ele tem características bastante peculiares. Segundo Ismar de Souza Carvalho, paleontólogo da UFRJ e um dos autores do artigo, explica que ele tinha dentes pontiagudos, o que indica que ele era um predador voraz.

O Campinasuchus media apenas 1,80 m, tinha cauda cilíndrica e curta, e era essencialmente terrestre, bem adaptado a viver afastado de lagos e grandes rios, suportando bem o clima árido e as altas temperaturas do final do período Cretáceo. "Eram temperaturas que chegavam facilmente a 55 graus Celsius, ainda mais quentes do que as dos desertos atuais", explica Ismar. Suas pernas eretas lhe davam agilidade e grande mobilidade, permitindo-lhe que corresse por longas distâncias.

Essa estratégia de sobrevivência também foi o que facilitou a preservação do Campinasuchus dinizi, encontrado na fazenda Três Antas, em Campina Verde, no Triângulo Mineiro.
"Como há vários espécimes concentrados na área, em bom estado de conservação, os esqueletos ainda com os ossos articulados, tudo leva a crer que esses animais tenham se enterrado na lama ainda vivos, mas não tenham conseguido suportar um período de seca muito prolongado", explica Ismar. E Ribeiro acrescenta: "É provável que tenha havido uma mortandade em massa, possivelmente como resultado de períodos de estresse térmico e total ausência de água naquela bacia."

Para Ribeiro, o sítio paleontológico em que se transformou a fazenda Três Antas tornou-se o mais novo "Lagerstatten" continental brasileiro. A expressão em alemão, na verdade, significa uma concentração excepcional de fósseis em quantidade, variedade e grau de preservação. "Conta com alta concentração de fósseis em bom estado de preservação, materiais completos, que possibilitarão contar detalhes da história biológica da vida durante o Cretáceo Superior", comenta Ribeiro.
A animação 3D, em andamento, recriará a história desse crocodilo, num documentário de 15 a 20 minutos de duração. "Será uma forma de partilhar essas descobertas com todos os amantes da Paleontologia. Esperamos que despertem um interesse quase tão grande quanto as animações do cinema."
por Luiz Gustavo Amaral - Siga no Twitter, @lgustavoamarals
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